Morreu Yasser Arafat. O líder palestino que já havia sido dado como morto, em 1992, quando o avião em que viajava caiu no deserto da Líbia. Esta é uma retrospectiva da carreira de um homem cuja biografia conta passagens como sendo o mais procurado dos terroristas num momento e mais tarde o ganhador do Prêmio Nobel da Paz.
SidBiladi, Biladi´, meu País, meu País, Palestina. Esta canção militante marcou a carreira de Arafat que começou cedo. Abu Ammar, seu nome de guerra, começou em 1965 como líder do movimento nacionalista Al Fatah, que mais tarde se tornaria a Organização para a Libertação da Palestina, PLO. Esta organização nasceu com o propósito de desmantelar o Estado de Israel, instituido em 1948 após a Segunda Guerra Mundial, e fazer regressar os milhões de refugiados palestinos a sua terra natal.
Os fins justificam os meios, um ditado que Arafat parecia seguir à risca. Entretanto, os métodos por ele utilizados não lhe renderam inicialmente o apoio internacional de que necessitava para sua causa. Seus propósitos foram se modificando e passou a ser a criação de um Estado Palestino ao lado e não no lugar de Israel. Seu primeiro destaque âmbito internacional foi em1974 quando foi autorizado a pronunciar seu polêmico discurso diante da Assembléia Geral das Nações Unidas.
"Chego aqui com um ramo de oliveira em uma mão e uma arma na outra", disse Arafat. Mais tarde repetiria três vezes, "Não deixem que estes ramos de oliveira caiam de minhas mãos".
Mas em princípio, foi a arma que predominou, a partir de Londres onde a OLP mantinha sua base principal. Em 1982, Israel invade o Líbano, na época sob comando do ministro da Defesa Ariel Sharon, com o propósito de destruir Arafat e sua Organização. A operação fracassa, mas Arafat e seu grupo foram expulsos para a Tunísia. Em dezembro de 1987 tem início a Intifada, o levante do povo palestino nos territórios ocupados.
Graças à Intifada e ao crescente reconhecimento internacional da necessidade de encontrar uma solução para o conflito, Arafat regressa ao cenário político. Em dezembro de 1988, em um segundo discurso nas Nações Unidas, ele renuncia formalmente ao terrorismo e para que não haja dúvidas, o faz em inglês.
Durante a primeira guerra do Golfo, em 1991, Arafat fica novamente isolado, quando se posiciona ao lado de Saddam Hussein. Mas o isolamento não é longo já que sem Arafat, o processo de paz não pode avançar. Isto estabelecido, são firmados os chamados Tratados de Oslo. Em 1993, aquele que no passado tinha sido desprezado, foi recebido oficialmente na Casa Branca pelo então presidente norte-americano Bill Clinton. Naquela ocasião são assinados os acordos de Oslo e diante dos olhos do mundo, o então primeiro-ministro israelense Yitzak Rabin dá um aperto de mão ao líder palestino Yasser Arafat.
Em 1994, Arafat, Rabin e o então ministro das Relações Exteriores de Israel, Shimon Peres, recebem o Prêmio Nobel da Paz. Logo depois, Arafat regressa de seu exílio na Tunísia para tornar-se o líder da Autoridade Nacional Palestina na Cisjordânia e Gaza. Tragicamente, um ano mais tarde, Rabin é assassinado e com ele Arafat perde seu principal interlocutor em Israel. Shimon Peres sucede Rabin, mas devido à onda de atentados terroristas este premier de Israel se vê obrigado a ceder seu cargo a Benyamin Netanyahu, que politicamente era totalmente contrário aos acordos de Oslo. O processo de paz é interrompido.
Uma nova esperança nasce quando Ehud Barak assume a presidência do governo israelense, mas a famosa cúpula de Camp David em julho de 2000 fracassa porque as supostas generosas ofertas de Barak são consideradas insuficientes por Arafat. Principalmente a recusa israelense, com apoio do democrata Bill Clinton, do retorno dos milhões de refugiados palestinos e a questão envolvendo Jerusalém Oriental, reivindicada pelos palestinos como a capital do seu novo Estado palestino foram motivos de discórdia entre Barak e Arafat. Em setembro de 2002 tem início a segunda Intifada, seguida rapidamente por uma nova onda de atentados suicidas. A incapacidade, ou falta de vontade para resolver a situação se converte na derrocada política de Arafat. Após os atentados de 11 de setembro, o agora primeiro-ministro de Israel Ariel Sharon, consegue camuflar sua antipatia e perseguição a Arafat com a luta norte-americana a Osama bin Laden.
Mesmo doando sangue para as vítimas norte-americanas de 11 de setembro, os esforços de Arafat são infrutíferos. Em 2002, as tropas israelenses invadem os territórios palestinos e desde então Arafat permanece confinado em seu quartel general, Muqata, ou aquilo que sobrou do prédio destruído pelos tanques enviados por Sharon. Todos os esforços para expulsá-lo do cenário político fracassam devido ao fato de que ele - sendo o símbolo da resistência palestina - segue sendo o homem mais poderoso dos territórios. Tentativas que se tornaram mais evidentes quando um microfone ligado acidentalmente captou a conversa de Ariel Sharon com seu ministro da Defesa sobre a oportunidade de liquidar Arafat. Apesar das inúmeras críticas sobre seu autoritarismo e suas eleições estratégicas, Arafat é o símbolo indiscutível da resistência do povo palestino, até mesmo para os seus inimigos.